





Ficha Técnica 2023
Presidente: Milton Perácio
Diretor de Carnaval: Thiago Monteiro
Carnavalescos: Leonardo Bora e Gabriel Haddad
Mestre de Bateria: Fabrício Machado
Rainha de Bateria: Paolla Oliveira
Harmonia: Andrezinho e Cacá Santos
Intérprete: Evandro Malandro
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Daniel Werneck e Taciana Couto
Coreógrafos da Comissão de Frente: Hélio Bejani e Beth Bejani
“Ô Zeca, o pagode onde é que é?
Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém,
pra te ver, pra te abraçar,pra beber e batucar!”
G.R.E.S. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO | Carnaval 2023
Sinopse – RESUMO
*Texto de enredo para ser lido de soslaio, ao som de um samba mansinho, de preferência com sol, cerveja gelada no copo, um cavaquinho do lado, feito as crônicas de outrora, evocando Noel Rosa
“(…) o botequim é, no Rio de Janeiro, uma verdadeira instituição.”
Nei Lopes – Dicionário da Hinterlândia Carioca
Ô Zeca, tu nem imagina o tanto de perna batida! Casco, cavaco e sapato. N’alvorada da malandragem, quando os fogos ainda explodiam, as armas do Santo Guerreiro brilhavam no peito e nos dedos daqueles que são valentes, a nata, a fina-flor, dos bicolores nos pés, sobre um chão de asfalto e folia, pétalas de rosas vermelhas, parafina derretida, nobres ruas suburbanas, entre a capela e o bar. Salve Jorge, 23 de abril! Pois tu não contou pra mim que daí veio a devoção – dos anéis e medalhões, bambambãs de fama e palavra? Mesma data em que o galo cantou e o povo chamou o Ôme, sob a luz prateada da lua, em forma de um grande pandeiro, aquela de tantas lamúrias, que clareia cada despacho das macumbas das baixadas – numa casa de Caxias, num terreiro em Acari?
Seguia a cavalgada de capas encarnadas! Era hora de agradecer – mas cadê teus copos na mesa, entornando, naquela esquina? Nos trilhos dos trens da Central, o ferro dormente de Ogum, vigia que nunca falha, espada!, aquele que desce nas giras, viga!, depois que Exu se alimenta. Patacori, Ogunhê! Todo dia é dia de luta e sem fé não se labuta nem se banha de mandinga. Juntei os patuás todinhos e segui buscando a farofa. Saudei o Velho da cura, teu pai, rezei pra Nossa Senhora, lembrei de Dona Ivone e do dourado que é d’Oxum. Lembrei de Jovelina, de quem tu falou carinhoso, com saudade de Angola, saudade da Velha Bahia, e essa coisa de contas e guias me guiou foi pra Irajá. Irajá de tanto sambista e de tanto gurufim. E lá… lá, pisando em caquinhos, eu lembrei dos tempos da infância, bola de gude na terra, pipas malucas no céu, as serestas, os coretos, o banquete dos cachorros que alguém dedicou a São Roque, e doces de toda sorte (suspiro, cocada, pirulito, coração de abóbora…) pra São Cosme e São Damião. Que tu tatuou no peito, por isso eu chamei a Patota! Doum é que passeava no cavalo do ferreiro: galopou pra Del Castilho, flecha veloz do tempo. E haja caruru pro banzé da criançada!
Manhãs brejeiras me levam, é bom esse vadiar. Quase me perdi rodando, mas aí pensei que é isso mesmo: perder é parte do jogo e já chorei pelas tabelas. Da lágrima se faz rima, de tristeza ou alegria. Então me veio a Madrinha, com a sua voz das andanças, e eu fui é pras bandas de Ramos, a Zona da Leopoldina, juntando na mesma mochila os retalhos do teu pagode: dos Boêmios, o “sobrenome”; do Cacique, a raiz e a casca. Tremia nas rodas, caboco? A Tamarineira sagrada. Que viu tantas invenções que mudaram a nossa batida – o repique de Ubirany, o improviso, o banjo… Teu Compadre imperiano! Lições da filosofia que respinga nos azulejos, sincopada, sem floreios. “Camarão que dorme a onda leva” – e é por isso que eu durmo acordado: um olho no peixe, o outro no gato. Ou na Onça do Bafo. Mas lá tu também não estava. Talvez numa gafieira? Não, era dia claro. No Beco da Coruja, na Beira do Rio, no Morro do Fubá, cadê, ond’é?
Caminhei meio assim, à toa, tropeçando nas biroscas, essa coisa, a gente sabe, trem lotado, sol queimando, o jornal que embrulha a fruta, a marmita da menina, o petisco, o tira-gosto, a birita, o percurso que tu fazia, roda em roda, pegando ônibus. Não se vê super-herói de barriga ou despensa vazia. Cada laje uma fuzarca, engradados se empilhando. Tem sururu na feira, tem salseiro noutra praça. Lama. Pé-sujo. Fofoca. Faixas gritando amores nuns letreiros meio tortos, como tudo é meio torto, amarrotado, nessa vida – inclusive as pernas que driblam e as mãos que dão as cartas. Vida vivida na rua, entre caronas e atalhos. Apostei no milhar do cavalo e palpitei minha fezinha. Desci mais uma gelada e passei o giz no taco. A barriga é que roncava tanto mais que uma cuíca! Caviar nunca comi, fico mesmo é no quiabo. Pimenta jamais faltou pela tua caligrafia: o dendê pintou o dente, o pão bebeu o pingado, um samba enfim refogado nos temperos da boemia. Partido alto! Não se vive, pois bem, sem orgia. Creio que tu me entende… Justificado o atraso? Santo, aqui, também bebe! Faltou o feijão carregado, a farinha e o torresmo – então eu matei a charada e tomei rumo certeiro.
De carroça imaginária, zarpei pra “Velha Baixada”, Sapopemba e Maxambomba, subúrbios de tantas gentes que migraram retirantes. Do Nordeste, do Vale do Paraíba. Fé curtida feito couro, as malas, as fivelas, as favelas pelos morros, eu pensava era no Heitor e na pintura que se mexe. As roças. Quintais musicais de folguedos, congos, calangos, quadrilhas, fogueiras, roncós, curimbas, violas caipiras:
“Xerém, Imbariê,
mas quem diria
que até Duque de Caxias
foi Nossa Senhora do Pilar!”
Em Xerém, tanta gente chegava que parecia uma farra de dias! “O que espanta a miséria é festa!” – aprendeu com Beto Sem Braço? Um rojão decretou seis horas, a multidão se embolando. Amigos de todas as partes bebiam, dançavam, cantavam, sul, norte, Santo Amaro. Madeira, mesa, baldes, balcão. Eu perdi foi tudo ali! Eu ganhei a luz da graça. Rito. Finalmente eu te encontrei e pude contar o dia. Noite afora, quem cantava, dedilhando maravilhas, eram nossas Velhas-Guardas, os perfumes pastoris das Tias (ô Doca!), porque tu, meu amigo querido, é um devoto desse legado. Entende que ouvindo os mais sábios é que se projeta o futuro – “pra reunir a garotada e proteger meu amanhã!” Sob as asas da Águia altaneira, voz centenária do samba, que fez ninho na Jaqueira e merece o aplauso e a glória (e voou pro Jaqueirão, festeira que só ela), tu bebia sorridente e entoava Seu Monarco: “Meu peito agora é só paixão!”
Depois foram sambas de enredo e as parcerias continuaram, no desafio, madrugada adentro, e eu acho que esse samba, que também é pagode (e vice-versa), girou feito porta-bandeira e desaguou na Passarela. E eu posso jurar, nessa embriaguez, juro pelas juras de Sinhô, que uma estrela solitária desenhou um risco que uniu finalmente subúrbios, baixadas, Portela, Irajá, Xerém, Intendente, Sapucaí, rabiscando as encruzas, outras geografias, e atendendo ao pedido maior – que é não deixar o samba acabar. Honrar o mestre Thybau e permanecer versando: o que se leva (e leva eu) é “o que se come, o que se bebe, o que se brinca!” Por aí, numa estrada, pés descalços, passarinhar.
E depois disso, é aquilo: não sei contar nem vou me comprometer. Deliro. Só sei que foi mais ou menos assim e que a vida que tu me ensinou, ô Zeca, o “Zeca way of life”, essa vida é um litro aberto! Falando a verdade, meu povo, eu, Grande Rio, que sou tão jovem e ainda me vejo, feliz, beijando o troféu da vitória… em 2023, pois sim, eu vou (e tu vem comigo!) é morar no botequim.
*Uma singela e jocosa homenagem a Jessé Gomes da Silva Filho, Zeca Pagodinho, “a cara do povo brasileiro”, na definição de Beth Carvalho; aquele que, nas palavras de Flávia Oliveira, pode ser lido como um “cronista de um subúrbio mais amoroso e solidário”.
Ficha Técnica
- Fundação: 22/09/1988
- Cores: Vermelho, Verde e Branco
- Presidente: Milton Perácio
- Presidente de Honra: Jayder Soares e Helinho de Oliveira
- Quadra: Rua Almirante Barroso, 5 e 6 – Duque de Caxias – RJ – CEP 25010-010
- Ensaios:–
- Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 04) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa
- Web site: www.academicosdogranderio.com.br
- Imprensa: Alice Fernandes
A História da Grande Rio
Nos anos 50, a cidade de Duque de Caxias teve uma participação efetiva no carnaval carioca, com a escola de samba Cartolinhas de Caxias. Esta agremiação participou do grupo de elite das escolas cariocas três vezes (1951, 1958 e 1959), participando posteriormente, com frequência, dos grupos intermediários e sendo respeitada pelo mundo do samba. O último desfile da Cartolinhas foi em 1971, quando com o intuito de fundar uma grande agremiação que representasse dignamente o município, os dirigentes das escolas União do Centenário, Cartolinhas de Caxias, Capricho do Centenário e Unidos da Vila São Luís unem-se e de sua fusão é fundada a GRES Grande Rio em 10 de maio de 1971.
Em 1988, um grupo de sambistas de Duque de Caxias reuniu-se para criar uma nova agremiação para o município. Para filiar-se à AESCRJ, à época, era preciso que a agremiação já fosse um bloco carnavalesco.Por isso, a nova escola utilizou a estrutura jurídica do bloco de enredo Unidos do Lambe Copo, situado na Prainha, em Caxias, e que havia competido pela Federação dos Blocos, pela última vez, em 1979, sendo campeão do Grupo 8.[8] Milton Abreu do Nascimento, conhecido como Milton Perácio, foi eleito o primeiro presidente, e decidiu convidar Antonio Jayder Soares da Silva para ser o presidente de honra e o então deputado Messias Soares para ser o patrono.
A Acadêmicos de Duque de Caxias foi oficialmente fundada em 22 de março de 1988, porém como forma de evitar que a nova escola precisasse começar na quinta divisão, finalmente, em 22 de setembro do mesmo ano, após muitas reuniões entre os membros das duas diretorias, a Acadêmicos de Caxias e a Grande Rio se fundiram, dando origem à atual G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio, cujo símbolo se compõe de uma coroa encimando um escudo dividido ao meio, aonde estão sobre um fundo vermelho um tambor com suas baquetas cruzadas e do outro lado, sobre um fundo verde a Reduc (Refinaria Duque de Caxias), e logo abaixo do mesmo há uma fita branca aonde se lê o nome da agremiação.