Alegria da Zona Sul

Rio Carnival
Rio Carnival
dsc1493
selminha-sorriso-e-claudinho
20220423-051430-scaled
Bandeira_do_GRES_Beija-Flor

Enredo 2022

  • Carnavalesco: Marco Antonio Falleiros
  • Diretor de Carnaval: Leandro Germano
  • Diretor de Harmonia: Greg Tavares
  • Intérprete: Igor Vianna
  • Mestre de Bateria: Mestre Claudinho Tuiuti
  • Rainha de Bateria: Anny Santos
  • Mestre-Sala: Diego Machado
  • Porta-Bandeira: Alessandra Chagas
  • Comissão de Frente: Leandro Azevedo
  • Desfile de 2022
  • Posição de desfile: 2° escola a desfilar na sexta feira (01/03/2022) / 22:45 – 22:55

Sinopse – RESUMO

“Quando nesta casa entrei, eu louvei Maria
Santo nome de Jesus, eu louvei a luz do dia…”
Ainda era pequenino a primeira vez que fui levado à um terreiro de Umbanda pelos meus pais. Eu tinha a alma infinita de pureza, mas, já sabia que muitos não entendiam aquela religião. Não quê, eu criança, soubesse direito sobre tudo que aconteceria, mas, a minha curiosidade sobre o que eu iria encontrar me levou até aquele lugar.
Quando adentrei aquele espaço sagrado, o som dos tambores e o cheiro das ervas queimando no pequeno braseiro me chamou atenção. Haviam pessoas de vestes alvas e algumas velas acesas no grande altar iluminado. As palmas ecoavam firme junto ao som de uma pequena sineta que parecia badalar ao longe um chamado.
Perto daquele altar havia um senhor e uma senhora sentados, cada um em seu velho toco. Ele – com seu velho chapéu de palha sob a cabeça – tinha o corpo curvado sustentado por uma bengala de madeira e um cachimbo que soltava uma branca fumaça. Ela – com um lenço branco que cobria os cabelos -tomava um bocado de café servido em uma cuia.
“A fumaça do cachimbo, defumou congá
E o rosário de Maria, clareou congá!
Ô clareou! Ô clareou!
Clareou, seu congá, clareou!”
Com a fala meio embolada, diferente de qualquer pessoa que lá estava, aquele senhor me chamou:

 – “Se achega, meu ‘fio’! ‘Nego véio’ tem história ‘pá’ ‘contá’. É o que ‘suncê’ veio buscar, né?”.

Eu sentia algo diferente, não sabia se era medo ou insegurança em participar daquele momento. Não havia mais como recusar. Tão logo, repeti o ritual que todos faziam ao se aproximar. Sentei-me em um banco a sua frente, e disse:
– “A bênça!”

Então, gentilmente ele me respondeu:

– “Deus abençoa, ‘fio’! Eu ‘sô’ Pai Benedito que veio de Aruanda. Essa é Maria Conga, ‘tá’ sempre junto ‘deu’. Aruanda ‘fio’, é terra de paz, onde faz ‘moradô’ todo povo que ‘trabaia’ na seara de umbanda. Eles vão ‘fazê’ ‘chegadô’ nessa banda ‘pá’ ‘trabaiá’ e ajuda contá história.”

 A humildade daquelas pessoas com o semblante amistoso me trouxe uma grande tranquilidade. Em suas histórias de vida, eles contaram ter vivido no tempo cruel do cativeiro. Sua luta para resistir foi intensa sem esquecer dos seus irmãos negros. Sua fé inabalável sempre foi o alicerce que os levou até a libertação. E o vovô completou:

– “E hoje nós ‘trabaia’ com ajuda das 7 linhas de Umbanda, é onde encontramos a força. Elas e nossos outros irmãos espirituais mandam a luz de Deus para o mundo. Elas clareiam os nossos passos para que ‘ocês’ não fique desamparados.” 

“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia

Eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus!

Como a pancada doía…”

As pessoas de fora continuavam a chegar e ocupar os espaços vazios nos bancos. Estavam chegando outros trabalhadores para se apresentar. Ao som dos tambores, todos ecoavam:

“Caboclo é, eu sei que é Caboclo é a luz do mato, é…”

Foi então que pude ouvir inúmeros brados que pareciam índios nas matas e tocadores de boi do sertão. Meu corpo se arrepiava enquanto aquele humilde senhor saudava a chegada de outros companheiros espirituais. Todos tinham o semblante sério, pareciam não gostar de brincadeira. Rapidamente apareceram cocares de penas coloridas e chapéus de couro. Então, o sábio me disse:

– “Meu ‘fio’, Umbanda tem mistério. O povo que ‘cá’ chegou ‘trabaia’ nas matas, nas campinas e com as ‘foia’. Faz defumação, beberagem, banho e reza firme!”

Aquele preto velho rapidamente me explicou que eram os caboclos que chegaram no terreiro. Eles traziam consigo os mistérios das folhas e sementes. Eram curandeiros, mandingueiros, donos de valorosa sabedoria.

“As ervas da Jurema curam,

As ervas da Jurema saram,

Quem é filho da Jurema nunca se perde nas matas”

Os tambores continuaram ressoando forte, o corpo daquelas pessoas parecia adormecer mais uma vez. Logo, ouvia-se uma, duas, várias gargalhadas. Larôye! Vibrava o terreiro saudando a chegada de Tranca Ruas e outras entidades. Foi aí, que aquela preta velha os apresentou:

– “Os nosso compadres e comadres são sentinela. É povo ‘trabaiadô’ que toma conta das porteiras e dos caminhos. São eles que ‘trabaia’ pra ‘defendê’ o terreiro e todos que cá estão.”

A fala simples e honesta daquela mulher me chamou atenção. Eu entendi naquele momento que Exu e Pomba-Gira são demonizados por quem os desconhece. Esses espíritos são trabalhadores que cuidam dos caminhos para que a luz de aruanda e os mensageiros possam chegar até a terra!

“Ê laroyê!

Exu jurou para Ogum

Que não traía Deus jamais

Exu essa casa é de Deus, Exu!

Exu não volta sua palavra atrás”

Passado algum tempo daquele trabalho, o terreiro parecia se preparar para acolher outras entidades. Um aroma diferente pairava pelo ar, pareciam incensos, um clima de magia tomava o espaço. E a aquela amável conselheira, disse:

– “Fio’! Esses espíritos que chegaram, vem de longe. Eles vêm do oriente, uma estrela brilhante guia eles. Sabem muito sobre amor e magia.”

Optchá! Arriba! Vibravam todos saudando a chegada dos ciganos e turcos. Lenços, pandeiros e fitas coloridas ornavam os corpos de quem estava incorporado. Faziam magias com punhais e moedas. Jogavam baralho, falavam sobre a sorte através das estrelas. Com flores e perfumes falavam sobre amor. Os cânticos saudavam:

“Quem nesse mundo nunca ouviu dizer?

Quem nesse mundo nunca ouviu falar?

De uma cigana, que mora naquela estrada,

Ela tem sua morada sob o clarão do luar…”

Chegavam ao terreiro outras entidades que traziam consigo um ar todo malandreado. Pareciam apaixonados boêmios, todos com seus chapéus levemente tombados sob a cabeça. As moças lembravam mulheres donas de um charme único e de grande refino, faziam recordar antigas damas da noite. Então, a vovó me diz:

– ‘Fio’, salve as ruas! Lá é o lugar desse povo que gosta de carteado e tem muita paixão em seus ‘trabaiadô’ para ajudar todos “ocês”. É amor, ‘fio’? Malandro ‘resorve’ isso.”

Se a rádio patrulha chegasse aqui agora Seria uma grande vitória, ninguém poderia correr

Agora que eu quero ver Quem é malandro não pode correr”

O grande auxiliador desses trabalhos era um santo que eu só tinha visto em altar de igreja. No poder sincrético da Umbanda, Santo Antônio de Batalha é que intercedia por todos os pedidos realizados. E aquelas entidades todas pareciam também trabalhar em uma espécie de resgate espiritual, com a presença e as forças de Deus para tirar outros espíritos que eles chamavam de “irmãos” e estariam perdidos em dimensões inferiores.

“Santo Antônio de Batalha

Faz de mim batalhador

Corre gira Santo Antônio

Tranca Rua e Marabô…”

Desta forma, os meus olhos brilhavam ao admirar aquela união de pessoas e entidades. Era sublime ver a chegada de mensageiros de todos os planos espirituais, cada um de sua “banda”, como eles diziam. Então, eu entendi que aquela liturgia nada mais era que a reunião de todas as bandas! Por isso, Umbanda! E o preto velho, rapidamente me diz:

– “Isso! ‘Suncê’ entendeu meu ‘fio’. Umbanda é coração aberto, Umbanda é caridade. Umbanda é ajudar quem precisa, neste e nos outros planos”

“Refletiu a luz divina, com todo seu esplendor,

É do reino de Oxalá, onde há paz e amor

Luz que refletiu na terra, luz que refletiu no mar,

Luz que veio de aruanda, para nos iluminar…”

Era mágico compreender como aquele momento transcendia o material, e há mais de um século, aquela liturgia religiosa fazia a ligação entre este mundo tangível com outros que não podemos ver. Foi aí que o vovô me revelou:

– “Um viva, ‘fio meu’, ao caboclo das 7 encruzilhadas! Foi ele que permitiu que cá nós estivéssemos, ‘pajuda’ ‘suncê’ e toda gente.”

Naquele novo ensinamento eu aprendi sobre a formação da Umbanda. Foi o Caboclo das 7 Encruzilhadas que abriu as portas da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade – através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes – para acolher todos os espíritos que buscavam auxiliar os seres viventes e alcançar sua evolução em outros planos. Feliz, o vovô completou:

– “E nessa banda ‘fio’, tem criança como ‘suncê’ que vem ‘trabaia’ também. Faz estripulia e bagunça, mas, ‘trabaia’! Tem, ‘fio’, o povo das águas grandes da mãe sereia. Marinheiro e as ondina que vem ‘pra’ lavar todos as impurezas do corpo e da alma.”

“A marola do mar que está ‘marolando’

Filho de pemba, vai descarregando

Tira feitiço, tira malefício

Tira inveja, tira olho grande”

Então, eu já não tinha mais dúvidas, aquele momento de fé me indicava bons caminhos a seguir. De corpo purificado e a alma banhada em uma luz irradiante. As minhas mãos já até acompanhavam as palmas daquelas pessoas. Foi aí que um dos meus companheiros nessa caminhada, assim disse:

– “Meu ‘fio’, ‘tá’ chegando a hora de ‘girá!’ O ‘véio’ Benedito e a ‘véia’ Conga não se cansam desse ‘canzuá’, mas, o que devia ser feito Deus alumiou e agora vive no seu coração. Umbanda é isso. Paz e amor. Um mundo cheio de luz.”

Eu, já não fazia mais questão de esconder a emoção por aquele momento, e claro, não queria ter que me despedir dos meus guias nessa noite. Então, tomei a benção como outros tantos fizeram, e eles já cantando sua despedia, me disseram juntos:

– “Deus abençoe, ‘fio’ meu. Fica na paz!”

“A sineta do céu bateu,

Oxalá já diz que é hora!

Eu vou, eu vou, eu vou!

Fica com Deus e com Nossa Senhora”

Os meus velhinhos foram embora prometendo voltar. Aquelas pessoas pareciam acordar de um sono profundo. Seus guias voltaram para Aruanda. De lá permanecerão vigilantes de todos nós até sua presença neste mundo ser outra vez necessária.

Neste momento sagrado, em verdade, eu sou uma criança que compreendeu a importância que a Umbanda tem. Para vermos que o Brasil em que vivemos é isto, a reunião de todas as bandas! É mistura, é crença, é um infinito de fé com lugar para todos. Todos, irmanados!

Agora me faço o retrato desse povo de fé, querendo apenas ver a sua crença, seus terreiros e seus mentores espirituais respeitados. Buscando levar os trabalhos sociais em auxílio aos necessitados em cada canto desse mundo. Sonho em ver a humanidade despida os seus preconceitos, estendendo a mão para celebrar a caridade como comunhão de fé. Que os corações pulsem irradiando bondade para vencer todas as barreiras levantadas contra aqueles que não compreendem a Umbanda. Que os filhos de fé não esmoreçam na luta!

Hoje, vou contar e cantar sob a proteção do pavilhão encarnado na luta e no suor de um povo que não cansa de acreditar na tolerância e no amor. Bordado com o branco da bandeira da caridade e da paz do pai maior.

Compartilho o meu aprendizado com a Alegria da Zona Sul, e humildemente, vamos juntos cumprir a sagrada missão:

Saravá, Umbanda!

“[….] levando ao mundo inteiro

A bandeira de Oxalá!”

Títulos da Escola

2012

Vice-Campeã

2010

Campeã

2003

Vice-Campeã

2001

Campeã

Ficha Técnica

  • Fundação: 28 de julho de 1992
  • CoresVermelho e branco 
  • Presidente: Marcus Vinícius de Almeida
  • Presidente de Honra: Sabrina Garcia
  • Quadra:  R. Frei Caneca, 211-233 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20221-000
  • Ensaios:-
  • Barracão: Via Binário do Porto, 250 – Santo Cristo, Rio de Janeiro – RJ, 20220-410
  • Web site: www.gresalegriadazonasul.com.br
  • Imprensa:

A História da Alegria da Zona Sul


A escola foi criada em 28 de julho de 1992 através da fusão dos blocos de enredo Alegria de Copacabana e Unidos do Cantagalo. A escola adotava as cores azul, verde e branco e tinha como símbolo os personagens de Walt Disney: Zé Carioca e Panchito.


Em 1993, no seu primeiro ano na AESCRJ, o Alegria conseguiu se manter no grupo E, apresentando o enredo “Sou Mais Carioca”, que retratava os 100 anos de seu bairro, os 50 anos do personagem Zé Carioca e do primeiro aniversário da agremiação.


No ano seguinte, já consolidada, a Alegria da Zona Sul alcançou seu primeiro campeonato, com o enredo “Na Dança das Cores: Preto Não é Cor, Mas Negro é Raça”, apresentando em seu desfile um apanhado dos significados das cores e enaltecendo a raça negra.


Em 1995, embora com força de um recente título, e no grupo D, o Alegria não desfilou. No ano seguinte, 1996, penalizado pela Associação, disputou novamente o Grupo E, obtendo novamente o título, com o enredo “Olha que Coisa Mais Linda Mais Cheia de Graça”, contando a história e comemorando o centenário do bairro Ipanema.


Em 1997, após novos distúrbios, quase não desfila. Seu enredo foi “Capoeira, Um Ballet á Brasileira”, contando a origem da luta/dança. Apesar dos problemas, consegue uma boa apresentação, que lhe rendeu o vice-campeonato e o acesso ao grupo C.


Em 1998, obteve o sétimo lugar com o enredo “Mulher Negra é Cultura Mundial”, enaltecendo a importância e força da mulher negra desde os primórdios da humanidade, mantendo-se no mesmo grupo.


Em 1999, o Alegria apresenta-se com o enredo “Alegria, Seu Signo no Zodíaco”, na Avenida Rio Branco, apresentando os signos e colocando a escola como o signo da euforia. Obteve o penúltimo lugar, e desceu para o grupo D.


No ano 2000, o Alegria vence e sobe novamente para o grupo C com o enredo “Negro Quem És?”.

Em 2001, com o enredo “Brasil um País de Todas as Raças”, mostrando as etnias que estiveram no Brasil até mesmo antes do descobrimento dos portugueses e a miscelânea que é o povo brasileiro, o Alegria da Zona Sul é campeão na Avenida Rio Branco, classificando-se para o desfile no grupo B na Marquês de Sapucaí.


Em 2002, foi a segunda escola a desfilar na terça-feira de carnaval, conseguindo a 6ª colocação com o enredo “O Sonho Dourado de Percy”, mostrando a saga do coronel inglês Percy Fawcett, desaparecido no interior do sertão brasileiro quando buscava a entrada para o Eldorado.


Em 2003, apresentou o tema “Festa no Quilombo: na Coroação de um Rei Negro”, a escola apresentou, num sonho de folião, o que teria sido a festa de coroação de Ganga Zumba, o primeiro rei de Palmares, quando, os mocamos homenagearam o entronado com danças afro-brasileiras, o que rendeu a ascensão ao grupo A.


Em 2004, o grêmio apresentou na avenida dos desfiles o enredo “Dorival Caymmi, o Mar e o Tempo nas Areias de Copacabana”, onde se aproveitou do fato de ser do bairro que o cantor e compositor Dorival Caymmi escolheu para viver e completar seus 90 anos de idade.