Salgueiro

Rio Carnival
Rio Carnival

Enredo 2024

  • Enredo:”Hutukara”
  • Carnavalesco: Edson Pereira
  • Presidente: André Vaz da Silva
  • Vice-presidente: Joaquim Cruz
  • Presidente de honra: Djalma Sabiá
  • Diretor de Carnaval: Wilsinho Alves 
  • Diretor de Harmonia: Jackson Carvalho 
  • IntérpreteEmerson Dias 
  • Mestre de Bateria: Guilherme Oliveira e Gustavo Oliveira
  • Rainha de Bateria: Viviane Araújo
  • Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Sidclei Santos e Marcella Alves
  • Comissão de Frente: Patrick Carvalho

“HUTUKARA”

G.R.E.S. Acadêmicos Do Salgueiro | Carnaval 2024

Sinopse – RESUMO

Há mais de mil anos os Yanomami vivem na maior Terra Indígena (TI) do país, em um território ao norte do Brasil e sul da Venezuela, nos estados do Amazonas e Roraima, nas bacias do Rio Negro e do Rio Branco. Ou seja, quinhentos anos antes dessas duas nações existirem, eles já estavam lá. Viver na floresta é um ofício que requer uma sabedoria ancestral, não fabricada em laboratório, nem encontrada nas páginas dos livros do “povo da mercadoria”. Viver na floresta como Yanomami é ser parte dela. É conviver com seres humanos e não humanos, animais, plantas, vento, chuva e milhares de espíritos.

“Omama recriou a floresta, pois a que havia antes era frágil. Virava outra sem parar, até que, o céu desabou sobre ela. Por isso, Omama criou uma nova floresta, mais sólida, cujo nome é Hutukara”

Davi Kopenawa – A queda do céu

Sob o luar de um anoitecer, todos se deitam, em redes, e iluminam o breu, numa aldeia sem luz elétrica, com lanterninhas e pequenas fogueiras que vão ajudar a amenizar o ar gélido da madrugada amazônica. A nossa noite, porém, é o seu dia. Sob o efeito da yãkoana, pó alucinógeno feito das raspas de árvores que dá acesso aos espíritos, os xamãs da aldeia convocam os xapiris. Eles vêm com seus corpos translúcidos, sempre belamente adornados e brilhantes. Só quem os conhece pode vê-los porque são muito pequenos e brilham como a luz. Há muitos, muitos, milhares deles. Xapiri é luz que dança e canta.

Os cantos dos xapiris são tão numerosos que suas palavras são inesgotáveis. Eles aprendem tais melodias a partir das árvores de cantos. São árvores imensas, com troncos cobertos de lábios que se movem sem parar, uns em cima dos outros. Dessas bocas saem cantos belíssimos, tão abundantes quanto as estrelas do peito do céu. Todos os cantos dos espíritos provêm dessas árvores muito antigas. Esses espíritos ancestrais foram criados por Omama para que os Yanomami pudessem se vingar das doenças e se proteger da morte. Os xapiris são os protetores dos humanos e seus filhos, independentemente de quantos sejam, e da floresta. Eles garantem a todos nós, indígenas e não indígenas, a certeza de que o sol nascerá no dia de amanhã e que o céu não desabará sobre a nossa cabeça.

Vislumbramos o sol do alvorecer. Céu azul, corpos pintados de vermelho. Coberta de palha e folhas, com uma praça de terra batida ao ar livre, o povo da aldeia parte para a caça e a coleta da pupunha, ingrediente principal do seu “mingau”. Eles usam arcos e flechas. Elas pegam seus cestos, seus facões, seus bebês e seguem para a roça. Aventuram-se mata adentro, com corpos imitando animais, procurando alimentos, seguindo seus rastros. Abelhas comem no jatobá-roxo, jacarés passeiam pelas águas, a sumaúma impõe majestade, e os perfumes exalam do fundo da selva. Flecham os animais, pescam os peixes. Mais tarde, chegarão com tatus, mutuns, jabutis, antas… Convidam uns aos outros, de casas diferentes, para dançar durante suas grandes festas reahu.

Mas ouvem-se roncos. Estrondos. Militares estão raspando a pele da terra-mãe para a construção de estradas. A floresta é cortada em pedaços, feito retalho. Os garimpeiros, “comedores de terra”, chegaram. Para os Yanomami, as coisas que se extraem das profundezas da terra, como ouro e petróleo, são artifícios maléficos, perigosos, impregnados de tosse e febre. Omama escondeu o minério embaixo da terra para que seu irmão Yoasi,o criador da morte, não fizesse mal uso dele. Apesar da prudência de Omama, Yoasi fez com que os não indígenas soubessem desses metais, despertando a cobiça dos invasores.

Enquanto reviram a terra para tirar de lá as lascas do céu, da lua, do sol, e das estrelas que caíram no primeiro tempo, a fumaça xawara da doença se espalha: a água fica barrenta; rios são destruídos; animais desaparecem… A terra é demarcada, mas nem por isso protegida. Nada será forte o suficiente para restituir o valor da floresta doente. Nenhum dinheiro poderá devolver aos espíritos o valor de seus pais mortos.

O ronco dos motores para ao anoitecer. É aí que se ouve um ruído muito pior:
O DAS CRIANÇAS CHORANDO DE FOME!

Em meio à essa tragédia, precisamos admirar a beleza e a força deles. Para os inimigos dos povos indígenas, o extermínio dos Yanomami passa pela destruição dessa beleza, passa pelo esquecimento de quem são. Porque é reconhecendo a beleza, a cultura, a memória, a sua própria língua, que os Yanomami afirmam a sua humanidade no mundo. Apaixone- -mos por esse povo, por sua maneira particular de contar histórias. O respeito só pode nascer da admiração, não da pena. Afinal, o genocídio visto hoje mostra mais quem são os napë (não indígenas) do que sobre os Yanomami.

Assim como os sonhos Yanomami que surgem quando as flores da árvore dos sonhos desabrocham, sonhemos com um Brasil indígena. Os Yanomami não apenas pensam sobre seus sonhos, eles sonham aquilo que pensam, ampliando e moldando sua forma de conhecer e imaginar o mundo. De Norte a Sul, do Nordeste ao Sudeste, por toda a terra-floresta até os limites da Hutukara, os sonhos dos diversos povos originários continuarão desabrochando em nós e seguiremos sendo resistência. Antes do verde e amarelo, existia o Brasil do jenipapo e do vermelho. Antes da Coroa, existia (e ainda existe) o Brasil do cocar. Não conheceremos o Brasil antes de vislumbrar e respeitar a história indígena. Precisamos sonhar verdadeiramente a nossa terra.

E, aos inimigos dos povos indíginas,
responderemos (em Yanomami)

Texto:

Igor Ricardo
Desenvolvimento:
Edson Pereira e Igor Ricardo
Colaboração:
Davi Kopenawa e Marcos Wesley (Instituto SocioAmbiental)

Bibliografia

  • KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavra de um xamã Yanomami. 1ª edição.\
    São Paulo: Capanhia da Letras, 2015.
  • BALLESTER, Anne. A árvore dos cantos. 2ª edição. São Paulo: Editora Hedra, 2022.
  • LIMULJA, Hanna. O desejo dos outros: uma etnografia dos sonhos Yanomami.
    São Paulo: Ubu Editora, 2022.
  • NOGUEIRA, Thyago (Org.), Claudia Andujar: A Luta Yanomami (Instituto Moreira Salles, 2018).
  • PEDROSA, Adriano; RIBEIRO, David. Joseca Yanomami: nossa terra-floresta. São Paulo: MASP, 2022.
  • GIMOVSKI, Fábio. Ancestrais da erra. Curitiba, PR: Editora Urukum, 2021.

SETORIZAÇÂO

  • ABERTURA – A Terra-Floresta: Hutukara
  • SETOR 02 – Por Dentro da Mata
  • SETOR 03 – A Tragégia Yanomami
  • SETOR 04 – Waitheri, Totihi e Peheti! – Coragem, Beleza e Verdade Yanomami
  • SETOR 05 – O Senho de um Brasil Indígina

Títulos da Escola

2009

Campeã

1975

Campeã

1974

Campeã

1965

Campeã

1963

Campeã

1993

Campeã

1971

Campeã

1969

Campeã

1960

Campeã

Ficha Técnica

  • Fundação: 05/03/1953
  • Cores: Vermelho e Branco
  • Presidente: André Vaz 
  • Presidente de Honra: Rafael Alves
  • Quadra: Rua Silva Teles, 104 – Andaraí – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20541-110
  • Ensaios:
  • Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 08) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa – CEP: 20.220-290/td>
  • Web site: www.salgueiro.com.br
  • Imprensa: Flávia Cirino 

A História do Salgueiro

Primeiros anos Em seu primeiro desfile, com o enredo “Romaria à Bahia” em 1954, a Acadêmicos do Salgueiro surpreendeu o público e alcançou a terceira colocação, à frente da Portela.
O primeiro presidente do Salgueiro foi Paulino de Oliveira e nos anos que se seguiram, a escola ousou ao tratar de enredos que colocassem os negros em destaque, e não como figurantes. É exemplo marcante desse novo estilo, Navio Negreiro (1957). Mas foi em 1958, sob a presidência de Nélson Andrade, que a agremiação adotou o lema que traz até hoje: nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente.

Foi Nélson Andrade o responsável pela ida do carnavalesco Fernando Pamplona para o Salgueiro, em 1960, dando início a uma grande mudança no visual da escola. Pamplona criou uma equipe formada por ele, o casal Dirceu e Marie Lousie Nery, Arlindo Rodrigues e Nilton Sá, revolucionou a estética dos desfiles das escolas de samba. Essa tendência foi reforçada com a chegada de Fernando Pamplona e, posteriormente, de Arlindo Rodrigues, que resgataram personagens negros que enriqueceram a história do Brasil, embora fossem pouco retratados nos livros escolares, como Zumbi dos Palmares (Quilombo dos Palmares – 1960), Xica da Silva (Xica da Silva – 1963) e Chico Rei (Chico Rei – 1964).

1963 – “Xica da Silva”

No primeiro desfile realizado na Avenida Presidente Vargas, a Acadêmicos do Salgueiro foi a nona escola a se apresentar pelo Grupo 1. Mais uma vez a escola optou por homenagear uma personalidade desconhecida do grande público na época, Chica da Silva. A ideia de desenvolver tal enredo partiu do carnavalesco Arlindo Rodrigues. Até mesmo Fernando Pamplona desconhecia a personagem. Arlindo ficou responsável pelo desfile, enquanto Pamplona ajudou a escolher o samba-enredo. Pela primeira vez, na história do carnaval carioca, um enredo foi centrado em uma personalidade feminina.

Também pela primeira vez, um desfile de escola de samba apresentava uma ala coreografada. Com perucas, luvas e roupas de época, componentes da escola representavam doze pares de nobres dançando polca. A ala “o minueto” foi coreografada por Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Na época, a ideia causou polêmica e dividiu opiniões, recebendo críticas de sambistas mais tradicionais. Com o passar do tempo, as coreografias em alas e alegorias foram incorporadas por outras escolas. Isabel Valença, esposa do então presidente Osmar Valença, desfilou como destaque de chão representando Chica da Silva.

Sua fantasia ostentava uma peruca de 1,10 metros, e um vestido com cauda de sete metros de comprimento. A luxuosa fantasia de Isabel fez tanto sucesso que ela foi convidada para participar do concurso de fantasias do Teatro Municipal, no ano seguinte, se tornando a primeira mulher negra a vencer o concurso. Isabel desfilaria durante anos como destaque de chão do Salgueiro, sempre ostentando fantasias caras, de luxo.

O cineastra Cacá Diegues, que assistiu ao desfile ao vivo, afirmou que a apresentação foi uma das inspirações para dirigir o filme Xica da Silva, rodado em 1976. Ao final de seu desfile, a escola recebeu gritos de “já ganhou”. Na apuração das notas, o favoritismo foi confirmado e a Acadêmicos do Salgueiro conquistou o seu segundo título de campeã do carnaval carioca. Desta vez, sozinha. No ano de 2013, o Jornal Extra recriou o desfile em um show especial em homenagem à Acadêmicos do Salgueiro