Acadêmicos do Viradouro

Rio Carnival
Rio Carnival

Ficha Técnica 2024

  • Enredo: “Arroboboi, Dangbé”
  • Carnavalesco: Tarcísio Zanon
  • Presidente: Hélio Nunes
  • Vice-presidente: Helio Nunes
  • Presidente de honra: Marcelo Calil Petrus
  • Direção de carnaval: Alex Fab e Dudu Falcão
  • Direção de harmonia: Jefferson Coutinho e Marcos Mendes
  • Intérprete: Wander Pires
  • Mestre de bateria: Ciça
  • Rainha de bateria: Erika Januza 
  •  Mestre-sala e Porta-bandeira: Julinho Nascimento e Rute Alves
  • Comissão de frente: Priscilla Mota e Rodrigo Mota 

“ARROBOBOI, DANGBÉ”

 G.R.E.S. Unidos do Viradouro | Carnaval 2024

Sinopse – Resumo

…ALAFIOU!

CAMINHOS ABERTOS PARA A VIRADOURO! A PREDIÇÃO DO ORÁCULO, SENHOR DE TODOS OS CONSELHOS, PRENUNCIA UM TEMPO DE GRANDES BATALHAS. TEMPO DE LUTA. E TEMPO DE VITÓRIA!

A MANUTENÇÃO DAS CRENÇAS DOS POVOS DA REGIÃO DA COSTA DA MINA VIVE NA PERSEVERANÇA DAS SACERDOTISAS VODUNS, MULHERES ESCOLHIDAS E INICIADAS EM RITOS DE LOUVOR À SERPENTE SAGRADA, CUJAS TRAJETÓRIAS MÍSTICAS SE ENTRELAÇAM EM COMBATES ÉPICOS, CAMUFLAGENS TÁTICAS E RESILIÊNCIA VITAL.

ARROBOBOI: “SALVE O ESPÍRITO INFINITO DA SERPENTE”!


DANGBÉ – O CULTO À SERPENTE


UM FACHO SINUOSO DESLIZA SOBRE O CHÃO, CHACOALHA AS FOLHAS, ESTREMECE A TERRA E BORBULHA AS ÁGUAS. É DANGBÉ, O VODUM DA PROTEÇÃO, DO EQUILÍBRIO E DO MOVIMENTO. NELE, NADA PRINCIPIA NEM FINDA, TUDO AVANÇA, TUDO RETORNA. É O CONSTANTE RODOPIO DO UNIVERSO, O CÍRCULO FECHADO, SENTIDO MATERIALIZADO PELA IMAGEM DA COBRA ENGOLINDO A PRÓPRIA CAUDA.

FOI ASSIM QUE RESPLANDECEU DANGBÉ ENTRE OS POVOS DE UIDÁ, NA COSTA DA MINA, APÓS A ÉPICA BATALHA CONTRA O REINO VIZINHO DE ALADÁ.

A SERPENTE ATRAVESSOU OS CAMPOS ONDE ESTAVA O EXÉRCITO DE ALADÁ, INDO SE UNIR AO LADO ADVERSÁRIO. O GRANDE SACRIFICADOR LEVANTOU O ANIMAL PARA QUE FOSSE VISTO PELA TROPA INIMIGA, PROSTRADA DIANTE DA SERPENTE. APÓS INTENSO ATAQUE, FOI CONSAGRADA A VITÓRIA DE UIDÁ. A NAÇÃO VENCEDORA PASSOU A LEVAR OFERENDAS E A REALIZAR GRANDIOSAS PROCISSÕES EM DIREÇÃO AO TEMPLO ERGUIDO PARA REVERENCIAR A DIVINDADE.

MAIS TARDE, A ADORAÇÃO A DANGBÉ SE UNIRIA AOS DEMAIS CULTOS AOS VODUNS OFÍDICOS PRESENTES NO REINO DO DAOMÉ, QUE EXPANDIU SEUS DOMÍNIOS APÓS INTENSAS LUTAS CONTRA OS REINOS PRÓXIMOS. BATALHAS EM QUE TEVE DESTAQUE UM PODEROSO EXÉRCITO FEMININO, PREPARADO ESPIRITUALMENTE PELAS SACERDOTISAS VODUNS.

O PACTO MÍSTICO DAS GUERREIRAS MINO

COMO O RIO QUE SERPENTEIA INUNDANDO A MATA, A TROPA IRROMPE O HORIZONTE. RASTRO ENCARNADO DE SANGUE SOBRE A TERRA, NA INSANIDADE DA GUERRA E NA DIGNIDADE DA LUTA. LÍNGUA DE BRASA E CIPÓ DE FOGO QUE FAZEM CREPITAR A PALHA SECA, ATAQUE COM DESTEMOR E FÚRIA A REVELAR O PODERIO DE MULHERES-SOLDADOS CONSAGRADAS NA FÉ E NAS BATALHAS, PROTEGIDAS PELO SOBRENATURAL.

AS GUERREIRAS MINO, AS MULHERES MAIS TEMIDAS DO MUNDO, ERAM ESPOSAS E GUARDIÃS DO PALÁCIO DO REI DO DAOMÉ, ALÉM DE AUDAZES CAÇADORAS DE ELEFANTES, CUJOS MARFINS ERAM UTILIZADOS COMO MATÉRIA-PRIMA EM CERIMÔNIAS OFICIAIS E RELIGIOSAS.

AO SEREM RECRUTADAS, PARTICIPAVAM DE UM RITUAL DE INICIAÇÃO CONDUZIDO PELAS SACERDOTISAS VODUNS, SENHORAS DO TRONO DA MAGIA E DOS ENCANTES. NESSA SAGRADA ASSEMBLEIA, REALIZAVAM UM PACTO MÍSTICO PARA QUE NUNCA TRAÍSSEM UMAS ÀS OUTRAS. O ESPÍRITO DE COLETIVIDADE FORJAVA A ARMA MAIS PODEROSA DE QUE DISPUNHAM: O VALOR INEGOCIÁVEL DA LEALDADE.

COM INTELIGÊNCIA E FÉ, FORMAVAM MAIS QUE UM EXÉRCITO: ORGANIZAVAM UMA PODEROSA IRMANDADE, ALIANÇA CONSAGRADA PELA FORÇA ENCANTATÓRIA DOS VODUNS. ASSIM, TORNAVAM-SE BELICAMENTE IMPLACÁVEIS E ESPIRITUALMENTE INVULNERÁVEIS. ATRIBUTOS ESPALHADOS AOS VENTOS POR LIDERANÇAS FEMININAS DO DAOMÉ EM OUTRAS LUTAS, DESTA VEZ PELA MANUTENÇÃO DO SAGRADO EM NOVOS TERRITÓRIOS ONDE AS HERDEIRAS DA SERPENTE FINCASSEM PÉS E PEJIS.

OS VALORES MÍSTICOS DAS GUERREIRAS ATRAVESSARAM O ATLÂNTICO NO BAÚ DE MEMÓRIAS E CRENÇAS DE UMA SACERDOTISA DO DAOMÉ, QUE CHEGOU AO BRASIL EM TRONO DE GU RAINHA. POUCO SE SABIA SOBRE O SEU PASSADO. MAS MUITO SE CONHECERIA SOBRE O SEU FUTURO.

LUDOVINA PESSOA E A HERANÇA VODUM NA BAHIA

COM A MISSÃO DE PERPETUAR OS CULTOS VODUNS NO BRASIL, LUDOVINA PESSOA ONDEOU PELO IMENSO OCEANO COM A COMPANHIA MÍSTICA DOS SEUS ANTEPASSADOS. TORNOU-SE O PILAR DE TERREIROS CONSAGRADOS AOS VODUNS, ENTRE ELES O SEJA HUNDÉ, NA CIDADE DE CACHOEIRA, NO RECÔNCAVO BAIANO, E O TERREIRO DE BOGUM, ERGUIDO NO CORAÇÃO DE SALVADOR.

NO BOGUM, CASA CENTENÁRIA DE LIDERANÇA FEMININA, FORAM PLANTADAS SEMENTES DE LIBERDADE, TORNANDO-SE IMPORTANTE LOCAL DE APOIO À REVOLTA DOS MALÊS, OCORRIDA EM SALVADOR NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX.

A PALAVRA “BOGUM” HISTORICAMENTE REMETIA A UM ALDEAMENTO PRÓXIMO À COSTA DA MINA. JÁ SEGUNDO A TRADIÇÃO ORAL, O TERMO TAMBÉM SE REFERIA AO BAÚ ONDE SE GUARDAVAM O OURO E OS DONATIVOS DESTINADOS A FINANCIAR A INSURREIÇÃO POPULAR QUE REUNIU O POVO NEGRO CONTRA A ESCRAVIDÃO.

SE POR UM LADO A REVOLTA FOI SUFOCADA, POR OUTRO, OS LAÇOS ENTRE AS SACERDOTISAS E A FÉ DOS POVOS TRAZIDOS AO BRASIL SE FORTALECERAM. ASSIM COMO AS ANCESTRAIS GUERREIRAS DO DAOMÉ, FOI PRECISO LANÇAR MÃO DA LEALDADE PARA QUE SUAS PRÁTICAS DE MAGIA ATRAVESSASSEM TEMPOS E FRONTEIRAS NESSE NOVO TERRITÓRIO MARCADO PELA PERSEGUIÇÃO ÀS SUAS CRENÇAS. IRMANDADES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A INSERÇÃO SOCIAL E RELIGIOSA DESSAS SACERDOTISAS, LÍDERES DE UMA LEGIÃO DE IRMÃS DE FÉ.

ENTRE A CRUZ E A SERPENTE: TEMPLOS SINCRÉTICOS

AGORA NÃO SÓ OS VODUNS PROTEGIAM AS MULHERES. COM AS IRMANDADES, AS MULHERES TAMBÉM PROTEGIAM OS VODUNS. ASSIM, TORNARAM-SE SENHORAS DA CURA, DA FORTUNA, DA FERTILIDADE, DAS ADIVINHAÇÕES, DOS CONSELHOS E DO DESTINO. ORIENTAÇÕES ESPIRITUAIS FEITAS INCLUSIVE A BRANCOS E BRANCAS QUE REPUDIAVAM PUBLICAMENTE O CULTO AOS ESPÍRITOS, MAS QUE ROGAVAM AUXÍLIO À MAGIA NOS FUNDOS DOS TEMPLOS DE ADORAÇÃO CATÓLICOS.

EM CACHOEIRA, NO TERREIRO DO SEJA HUNDÉ, LUDOVINA FOI O ELO ENTRE MUITAS DAS SACERDOTISAS REUNIDAS EM IRMANDADES, ESTABELECENDO LAÇOS DE PERTENCIMENTO ENTRE OS CLÃS. UNIDAS, TECIAM UMA REDE MATRIARCAL ASSOCIATIVA, ERGUIDA COM DEVOÇÃO E LEALDADE, PACTO FIRMADO SOB A CRUZ E A SERPENTE PARA QUE NUNCA ABANDONASSEM UMAS ÀS OUTRAS.

ENTRE BATUQUES E REZAS, TAMBORES E LADAINHAS, REUNIAM-SE EM LOUVAÇÕES E PROCISSÕES AOS SANTOS CATÓLICOS, SEM ABRIR MÃO DE PRECEITOS ANCESTRAIS, DENTRE ELES COZINHAR E DISTRIBUIR ALIMENTOS, PERPETUANDO A MISSÃO DE PROVER SUA GENTE DE FARTURA E PROTEÇÃO.

PROFESSAVAM FÉS QUE NÃO SE EXCLUÍAM AO MESCLAR RITOS LIGADOS ÀS DIVINDADES DA COSTA AFRICANA E À BARROCA EXPRESSÃO DO CATOLICISMO. CONSTITUÍAM, ASSIM, UM TIPO DE DEVOÇÃO FEMININA E SOLIDÁRIA QUE TRANSBORDAVA TAMBÉM NO GESTUAL, NA LÍNGUA, NO CABELO, NOS CHEIROS, NOS TALISMÃS, NOS BALANGANDÃS, NOS PARAMENTOS, NOS ALIMENTOS, NO JEITO DE DANÇAR E DE CANTAR, ENFIM, DE SER E DE ESTAR NO MUNDO. PODER QUE SE ETERNIZA NA CONSTANTE LUTA PELA CRENÇA VODUM, SUAS ENCANTAÇÕES, RITOS E MISTÉRIOS.

TERRA, TERREIRO CÓSMICO

“SEM ÁGUA E SEM MATA, O JEJE NÃO SOBREVIVE”

(DONÉ RUNHÓ, SACERDOTISA QUE LIDEROU O BOGUM ATÉ 1975, IMORTALIZADA EM BUSTO ESCULPIDO NO BAIRRO DO ENGENHO VELHO DA FEDERAÇÃO, EM SALVADOR).

E CÁ ESTAMOS NÓS, VIRADOURO E JEJE, CRUZANDO ENERGIAS E TAMBORES. A FORMAÇÃO DO CANDOMBLÉ NA BAHIA PASSA PELO LEGADO DA CRENÇA VODUM, MANIFESTADA NO AGUIDAVI, QUE COMANDA O TOQUE DE GUERRA DO ADARRUM. ESTÁ NOS RITOS E NAS DIVINDADES QUE SE RELIGARAM A OUTRAS MATRIZES RELIGIOSAS AFRICANAS, FLUINDO COMO RIO SERPENTEANDO PELA MATA, RUMO AO MAR. E, ASSIM COMO AS OFÍDICAS, SOBREVIVEM E SE EXPANDEM EM PELES QUE SE RENOVAM.

ENERGIA QUE RENASCE NO CULTO AOS VODUNS, HOJE ESPALHADO PELO BRASIL EM DIVERSAS CASAS CONSAGRADAS ÀS ENTIDADES. E SE VOCÊ SE PERGUNTAR QUE FORÇA PODEROSA É ESSA, SINTA QUE ELA MORA NA DOR E NO PRAZER DA CRIAÇÃO, NA NATUREZA DAS COISAS, NA EXPLOSÃO SONORA DO TROVÃO, NA RESPIRAÇÃO DAS FOLHAS E NO CORRER DAS ÁGUAS. ESTÁ NA MAGIA LUNAR. NO CALOR DO SOL. VIVE NO CAIR DA CHUVA QUE REGA O PLANETA, ESTE TERREIRO MÁGICO A FLUTUAR NO COSMOS. ESTÁ NO PODER INFINITO DA SERPENTE, DONA DE TUDO O QUE NÃO FINDA NEM PRINCIPIA, NO ETERNO RODOPIO DO UNIVERSO.

ARROBOBOI! SAUDAÇÃO E EVOCAÇÃO DA ENERGIA QUE TRANSITA ENTRE O CÉU E A TERRA! ENTIDADE VISÍVEL NO ENCANTAMENTO DO ARCO-ÍRIS, A PONTE SAGRADA QUE LIGA OS HUMANOS ÀS DIVINDADES VODUNS. E QUE NOS CONECTA AOS ENSINAMENTOS DAS ETERNAS HERDEIRAS DE DANGBÉ: SABEDORIA, LUTA, UNIÃO E VITÓRIA!

ALAFIOU…

CARNAVALESCO E AUTOR DO ENREDO: TARCÍSIO ZANON
TEXTO: JOÃO GUSTAVO MELO

AOS COMPOSITORES,
O DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA SE CONSOLIDA COMO LINGUAGEM ARTÍSTICA QUE ALCANÇA IMENSA REPERCUSSÃO. NÃO SE PRETENDE COMO VERDADE ABSOLUTA E IRREFUTÁVEL, MAS SE ESTABELECE COMO POÉTICA ORIGINAL DE UMA OBRA COLETIVA BASEADA NA VIVÊNCIA COMUNITÁRIA E HERANÇA HISTÓRICA, TENDO RESPONSABILIDADE COM A REPRESENTAÇÃO DO SAGRADO DOS POVOS DA DIÁSPORA, QUE SÃO BASE DA COMUNIDADE DA UNIDOS DO VIRADOURO.


ALGUNS ELEMENTOS DISPOSTOS NESTA NARRATIVA SÃO FRUTOS DE ESTUDOS ACADÊMICOS DE INCONTESTÁVEL QUALIDADE. ENTRETANTO, AO LADO DESSAS PESQUISAS, ESTÁ A FORÇA E GRANDEZA DA SABEDORIA ORAL QUE SE CULTIVA NOS TERREIROS, LEGÍTIMOS MUSEUS E BIBLIOTECAS DO SAGRADO, INSTITUIÇÕES CONSTITUÍDAS POR QUEM SE DEDICA AO LONGO DE GERAÇÕES ÀS ENERGIAS E AOS PRECEITOS ANCESTRAIS DOS VODUNS.


POR MEIO DE ENTREVISTAS, VIVÊNCIAS, VISITAS E LEITURAS, ESTAMOS CONSTRUINDO, EM CONJUNTO, UM PERCURSO NARRATIVO QUE SE ENCADEIA NA POÉTICA DO ENREDO QUE REVELA O PRINCIPAL ELEMENTO E RAZÃO DA EXISTÊNCIA DA NOSSA AGREMIAÇÃO: O SAMBA! É ELE QUEM NOS CONDUZIRÁ POR ESSA IMERSÃO ARTÍSTICA, REVOLVENDO IMAGINÁRIOS SOBRE POVOS SILENCIADOS QUE ERGUEM ESTE BRASIL-TERREIRO. UNINDO A FORÇA DOS CULTOS VODUNS AOS SABERES ANCESTRAIS, VAMOS CONSTRUIR JUNTOS ESSE CAMINHO, QUE AMPLIA NOSSO HORIZONTE RUMO A UM PAÍS VERDADEIRAMENTE LIVRE, RELIGIOSAMENTE DIVERSO E SOCIALMENTE IGUALITÁRIO.


AVANTE, VIRADOURO!


ARROBOBOI, DANGBÉ!

FICHA TÉCNICA

  • Fundação: 24 de junho de 1946
  • Cores: Vermelho Branco
  • PRESIDENTE: MARCELINHO CALIL
  • PRESIDENTE DE HONRA: MARCELO CALIL PETRUS
  • VICE-PRESIDENTE: HELIO NUNES
  • DIREÇÃO DE CARNAVAL: ALEX FAB E DUDU FALCÃO
  • CARNAVALESCOS: TARCÍSIO ZANON
  • COMISSÃO DE FRENTE: PRISCILLA MOTA E RODRIGO NEGRI
  • MESTRE DE BATERIA: CIÇA
  • RAINHA DE BATERIA: ERIKA JANUZA
  • INTÉRPRETE: ZÉ PAULO SIERRA
  • DIRETOR MUSICAL: HUGO BRUNO 
  • 1º CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: JULINHO NASCIMENTO E RUTE ALVES

A História da Viradouro

A escola disputou os desfiles de Niterói por 39 anos (1947 a 1985), porém, nesse período, veio ao Rio de Janeiro algumas vezes (64 e 65), conseguindo não mais que um 26º lugar (último) na terceira divisão.[24]


Após ser campeã niteroiense por dezoito vezes, a Viradouro resolveu tentar a sorte novamente no Rio em 1986. Fez bons desfiles nos grupos inferiores, sendo campeã do Grupo 2 em 1989 com o enredo “Mercadores e Mascates” e campeã do Grupo 1 no ano seguinte com “Só Vale o escrito”, chegando assim ao Grupo Especial em 1991.


Com uma homenagem à atriz Dercy Gonçalves, a escola surpreendeu e chegou em 7º lugar, à frente da Mangueira e da Vila Isabel, no ano em que o Império Serrano foi rebaixado. A escola teve a mesma quantidade de pontos da 4ª colocada, a Beija-Flor. Apenas pelos critérios de desempate, a escola acabou caindo para a 7ª posição. No desfile, considerado pela crítica como muito bonito, a homenageada desfilou no alto do primeiro carro alegórico, com os seios à mostra.


Em 1992, apresentou o enredo “E a magia da sorte chegou”, enredo de autoria de Max Lopes, e que contava a história dos ciganos. A escola fez um dos melhores desfiles de sua história. Todavia, dois incidentes ocorreram. O primeiro foi quando descompasses em evolução, em um casal no carro do Egito, que fez a escola correr para que não estourasse o tempo. O segundo foi em um dos mais belos carros daquele ano, que homenageava a Sibéria e trazia vários huskies siberianos, que pegou fogo. No momento do incêndio, o desfile estava em seus minutos finais. A decisão dos bombeiros foi esperar o carro queimar por completo para iniciar o combate ao fogo. Enquanto isso, um imenso rastro de fumaça cobria a Sapucaí. Durante este tempo, a escola ficou parada, até o momento do combate ao fogo. Por fim, a escola estourou o tempo em 13 minutos, o que resultou na perda de 13 pontos. Foram esses pontos perdidos que levaram a escola para a 9ª posição. Diante do incêndio, a escola ainda perdeu pontos no quesito Evolução. Como o incêndio foi causado por curto-circuito e não por problemas técnicos, não houve punição para o caso específico.


Max Lopes ainda se manteve na escola em 1993 obtendo o 7° lugar com o enredo “Amor, Sublime Amor”, mas em 1994 a Viradouro traria Joãosinho Trinta, que se afastara da Beija-Flor há dois anos. Logo em sua estreia, o carnavalesco obteve o 3º lugar, o melhor resultado da escola até então. Depois, obteve dois maus resultados, classificando-se na 8ª em 1995 com “O Rei e os três espantos de Debret” e na 13ª posição em 1996, com “Aquarela do Brasil ano 2000”.


Após o péssimo resultado de 1996, quando quase foi rebaixada, a Viradouro tinha o projeto de conseguir chegar ao Desfile das Campeãs. Mas o resultado final foi mais generoso e deu o primeiro título à escola de Niterói. Com Dominguinhos do Estácio como intérprete oficial e “Trevas, luz, a explosão do Universo”, levou para a avenida um bonito jogo de cores, contrastando o preto e o branco, o claro e o escuro. Um dos destaques deste desfile foi a bateria ter tocado, na “paradinha”, alguns compassos em ritmo de funk, sob o comando de Mestre Jorjão. Na época houve críticas de alguns outros mestres de bateria, que não gostaram da novidade.


No ano seguinte, a escola apresentou o enredo “Orfeu, o Negro do Carnaval”, baseado no filme de mesmo nome, que misturava mitologia grega à realidade social brasileira. Naquele ano a escola esperava repetir o sucesso do ano anterior, mas somente conseguiu um quinto lugar, o que a levou a protestar no desfile das campeãs, com alguns de seus integrantes inclusive usando narizes de palhaço. A partir daí, a escola conseguiu sempre chegar ao Desfile das Campeãs, exceto em 2005, quando ficou na 8º posição.


Em 2004 a escola do bairro do Barreto reeditou “A festa do Círio de Nazaré”, enredo da Unidos de São Carlos apresentado em 1975, inicialmente a proposta da escola era um enredo inédito sobre a romaria Paraense, porém o então presidente José Carlos Monassa à época interrompeu a disputa de samba-enredo da escola e anunciou a reedição do samba estaciano. Se o critério de descarte da nota mais baixa fosse aplicado nessa época, a escola teria sido campeã do carnaval daquele ano, com 299,8 pontos se descontadas todas as notas minimas de cada quesito, exceto bateria que teve as notas de um julgador anuladas por quebra de sigilo.